O trabalho do agente comunitário de saúde na percepção da
comunidade de Anastácio, Estado do Mato Grosso do Sul
Raquel Gusmão Oliveira1*, Maria Cristina Abrão Nachif2 e Marina Lopes Fontana
Matheus2
RESUMO. O Agente Comunitário de Saúde (ACS) está em contato permanente com a
comunidade, unindo dois universos culturais distintos, o científico e o popular, ajudando,
assim, no trabalho de vigilância e na promoção da saúde. A pesquisa buscou identificar se a
população atendida pelo Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) reconhece o
papel e a importância das atividades dos ACSs e se está satisfeita com seu trabalho. Realizouse
um estudo descritivo, com amostra de 180 famílias cobertas pelo PACS no Município de
Anastácio, Estado do Mato Grosso do Sul no ano de 2002. As famílias atendidas pelos ACSs
os vêem como elemento de ligação entre a comunidade e os serviços de saúde e estão
satisfeitas com o seu trabalho. Em relação à atuação dos mesmos, o desempenho de seu
papel é adequado e é reconhecido como um elemento que facilita as relações entre
indivíduos-famílias-comunidade com o sistema local de saúde.
Palavras-chave: Agente Comunitário de Saúde, comunidade, serviços de saúde.
Introdução
A participação comunitária é uma estratégia que
vem sendo preconizada há muito tempo. Em 1978, a
Organização Mundial da Saúde (OMS), reunida em
Alma-Ata (URSS), definiu metas que objetivavam
“Saúde para todos no ano 2000”, mediante a
priorização da atenção primária à saúde, trazendo em
suas bases a participação da comunidade.
No Brasil, muitos esforços foram feitos para que
a direção indicada pela OMS fosse alcançada. Na
busca de nova orientação para o modelo assistencial,
as discussões sobre a Reforma Sanitária Brasileira na
8a Conferência Nacional de Saúde (1986) e a
promulgação da Constituição de 1998 marcaram a
criação do Sistema Único de Saúde (SUS), com
princípios doutrinários e organizativos que
preconizam: “a universalidade, a equidade e a
integralidade das ações, a regionalização e a hierarquização
dos serviços, maior resolutividade, a descentralização das
ações e dos serviços e a participação dos cidadãos”
(Ministério da Saúde, 1990: 9-11).
Como elemento desse processo participativo, deve
ser considerado o dever das instituições oferecerem
as informações e os conhecimentos necessários para
que a população se posicione sobre as questões que
dizem respeito a sua saúde.(Ministério da Saúde,
1990: 11).
É nesse contexto que surge mais um integrante
dos serviços de saúde: o Agente Comunitário de
Saúde (ACS).
O ACS é um trabalhador que integra a equipe de
saúde local, auxiliando as pessoas a cuidarem da
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própria saúde, por meio de ações individuais e
coletivas (Ministério da Saúde, 1995).
É a pessoa que está em contato permanente com
a comunidade. Ele vive nela e faz parte dela. Unindo
dois universos culturais distintos: o científico e o
popular, ajudando assim no trabalho de vigilância e
na promoção da saúde. É de grande importância a
presença do ACS nos serviços de saúde, como
agente de transformação e mudança.
A história do Agente Comunitário de Saúde
O ACS não é um ator novo no cenário mundial
da saúde. No Canadá, em 1920, ele aparece para
auxiliar no movimento de organização comunitária
nas Américas. Há décadas, diversos grupos religiosos
e organizações não-governamentais treinam agentes
de saúde. Na América Latina, apesar da resistência a
esses trabalhadores, os mesmos foram utilizados nos
últimos 20 anos como estratégia de extensão de
cuidados básicos em comunidades rurais e
periurbanas. (Solla, 1996: 5).
No Brasil, os agentes de saúde aparecem sob a
forma de trabalho voluntário, em alguns estados e
municípios, apoiados também por instituições nãogovernamentais
(Unicef, Pastoral da Criança,
Pastoral da Saúde) visando a melhoria na realidade
sanitária.
Em 1991, o Ministério da Saúde/Fundação
Nacional da Saúde criaram o Programa de Agentes
Comunitários de Saúde (PACS), com o objetivo de
atender às necessidades da população, com
qualidade, universalidade, sem preconceitos,
participativo e, sobretudo, livre de interferências
político-partidárias (Sousa, 2001: 57).
O lançamento nacional do PACS aconteceu na
Bahia em junho de 1991. A implantação foi iniciada
pela região Nordeste devido à existência de altos
índices de doenças, de carências, de pobreza e de
miséria. Em um segundo momento, o programa
seria estendido para a região Norte (Manaus e
Belém) e, num terceiro momento, ainda em 1992,
deveria ser estendido aos demais estados da região
Norte e periferias das principais capitais do país, fato
que não ocorreu, ficando o PACS restrito às regiões
Nordeste, Norte e Centro-Oeste (Sousa, 2001: 50).
No ano de 1993, o Programa já estava
funcionando em 13 Estados da região Norte e
Nordeste, contando com mais de 29 mil ACSs,
distribuídos em 761 municípios (Solla, 1996: 6).
A partir de 1994, com o desenho da estratégia do
Programa de Saúde da Família (PSF), é que os ACSs
começaram a chegar aos grandes centros, às regiões
metropolitanas e às capitais do Sul e do Sudeste. A
meta do Ministério da Saúde era implantar 45 mil
ACSs em todo o Brasil, respeitando os Estados e
municípios que demonstrassem interesse de adesão
e transformassem seu interesse em decisão política
de fazê-lo. (Sousa, 2001:51)
Em 1998, o PACS já atingia todas as regiões do
país (Ministério da Saúde, 2001:33), conforme se
observa na Tabela 1.
Tabela 1. População atendida pelo Programa de Agentes
Comunitários de Saúde (PACS), Brasil, 1999.
Região População coberta %
Norte 69,9
Nordeste 60,2
Centro-Oeste 43,7
Sul 17,0
Sudeste 2,9
Fonte: Brasil/Ministério da Saúde, 2000
No Estado de Mato Grosso do Sul, o Programa
foi implantado no ano de 1996, inicialmente em 12
municípios. Em 2000, o PACS já se estendia a 61
municípios, atendendo 61,8% da população (Tabela
2), o que qualificava como o estado da região
Centro-Oeste com maior cobertura do programa,
acima da média de adesão nacional, que é de 42%
(Ministério da Saúde, 2001:23).
Tabela 2. População atendida pelo Programa de Agentes
ComunitárioS de Saúde (PACS), Centro-Oeste, 1999.
Estado População coberta %
Mato Grosso do Sul 61,8
Mato Grosso 56,1
Goiás 49,7
Distrito Federal 0
Fonte: Brasil/Ministério da Saúde, 2000
Em Anastácio, município do interior do Estado
do Mato Grosso do Sul (130 km da capital), com
uma população de 22.477 habitantes (IBGE, 2000), o
PACS foi implantado oficialmente em 1997 por
meio da Lei Municipal 423/97, que se fundamentou
na crença de que o ACS seria o elemento estratégico
para atuar diretamente na comunidade, levando
informações e conhecimento para o cuidado da
saúde de sua comunidade, numa ação integrada
entre a comunidade e os serviços de saúde.
Inicialmente, o município capacitou oito ACSs,
que atendiam em média 1.200 famílias distribuídas
pela zona urbana e rural, ou seja, com uma cobertura
populacional de 21,4% (Tabela 2).
Em 2001, após duas ampliações do programa, 31
ACSs passaram a atender aproximadamente 3.822
famílias, cobrindo cerca de 62,8% da população
(Tabela 3).
Para a implantação do PACS no município, foi
necessário seguir as diretrizes do Programa,
estabelecidas pelo Ministério da Saúde, garantindo
O trabalho do agente comunitário de saúde 97
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assim a uniformidade na implantação/
implementação do programa em todo o país.
Tabela 3. Evolução da cobertura populacional do PACS, no
município de Anastácio, Estado do Mato Grosso do Sul, 1997-
2001.
Ano População coberta %
1997 21,4
1999 40,1
2001 62,8
Fonte: SIAB/Anastácio/MS, 2001
O PACS vem servir de base para a conversão do
modelo assistencial de saúde, saindo de uma prática
de assistência caracterizada essencialmente por
consulta médica, medicalização da doença e centrada
em hospitais, para uma saúde com compromisso
social e responsabilidade com a população, visando à
resolutividade e à integralização da assistência,
fazendo a saúde sair de dentro das unidades rumo à
comunidade e tornando a informação acessível a
todos.
O trabalho do ACS
O ACS tem uma missão social bem clara, pois é
alguém inteiramente identificado com sua própria
comunidade, com os mesmos valores, costumes e
linguagem, cuja capacidade de liderança se reverte
em ação comunitária em prol da melhoria das
condições de vida e de saúde, apoiada pela ação
governamental (Sousa, 2001: 103).
O trabalho do ACS é baseado em ações
educativas e preventivas que buscam fortalecer a
organização, a valorização e o desenvolvimento
comunitário, bem como o vínculo do sistema de
saúde com a comunidade. Na prática, o ACS deve
estar atento para quatro verbos importantes na
execução de seu trabalho, pois refletem a maioria de
suas ações: identificar, encaminhar, orientar e
acompanhar.
Identificar é uma ação que precisa de atenção,
pois é necessário reconhecer fatores de risco para as
doenças, a fim de poder encaminhar corretamente a
pessoa à unidade de saúde. Encaminhar é o
momento em que o agente faz a ligação entre a
comunidade e a unidade de saúde, por isso precisa
estar entrosado com a equipe, a fim de que a pessoa
possa ser atendida com atenção e eficiência, mas, às
vezes, a pessoa não poderá ir sozinha à unidade,
então o agente deverá acompanhá-la. Orientar é a
ação que o agente realiza diariamente em suas visitas,
procurando refletir com as pessoas sobre as
dificuldades que elas enfrentam e que medidas
devem ser tomadas segundo as orientações da equipe
de saúde para que elas possam ter sua saúde de volta
ou não venham a adoecer. Acompanhar é a ação que
significa dar assistência às pessoas de sua
comunidade que estão em situação de risco, como
gestantes, crianças, idosos (Ministério da Saúde,
2000).
A nossa experiência em desenvolver atividades
profissionais com o PACS levou-nos a refletir a
respeito da importância do reconhecimento da
comunidade quanto à pessoa do agente comunitário
de saúde e de seu trabalho para o fortalecimento do
SUS. Isso induziu-nos a desenvolver esta pesquisa,
que teve por objetivo avaliar a percepção da
população atendida pelo Programa de Agentes
Comunitários de Saúde no município de Anastácio
quanto ao papel do Agente e ao grau de satisfação
com o seu desempenho.
Material e métodos
Trata-se de um estudo descritivo com
abordagem quali-quantitativa realizado com 180
famílias na zona urbana do município de Anastácio.
O município é dividido pelo PACS em duas áreas:
01 (11 agentes- 11 ma- 1.786 famílias) e área 02 (09
agentes-12 ma-1.606 famílias). As famílias
entrevistadas residiam na área 01 (a referida área foi
escolhida por estar com maior porcentual dos
agentes atuantes em suas microáreas).
A população do município de Anastácio é
predominantemente jovem, desenvolvendo
atividades na produção pecuária e nos serviços
públicos, com renda média entre 1 e 2 salários
mínimos e índice de analfabetismo de 16%. Quanto
ao tipo de moradia, 85% das famílias residem em
casas de alvenaria, 94% das residências possuem
energia elétrica e 84% recebem água da rede pública.
O sistema de esgoto cobre apenas 8% da área
atendida pelo PACS e a população utiliza fossa em
88% dos domicílios. Quanto ao destino do lixo, a
coleta pública atinge 76% dos domicílios (Secretaria
Municipal de Saúde, 2001). O município possui 3
Unidades Básicas de Saúde na zona urbana e não
possui hospitais. A população procura atendimento
hospitalar no município vizinho.
Foram escolhidas 20 famílias por microárea,
utilizando o número da família no cadastro do
agente (Ficha A - contém dados referentes a:
endereço da família, número de pessoas da família,
condições de moradia, aspectos socioeconômicos e
condições de saúde).
É importante ressaltar que de uma amostra de
200 famílias, foram realizadas 180 entrevistas, visto
que a agente da microárea 11 estava em licença
maternidade havia 2 meses deixando a área
descoberta e a microárea 07 sofreu alterações em
função da implantação do Programa de Saúde da
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Família, que implicaram na mudança geográfica da
área duas vezes, onde o agente ficou sem realizar
visitas durante dois meses numa grande extensão da
área em estudo.
As famílias foram sorteadas utilizando-se a tabela
de números aleatórios, que consiste em uma grande
quantidade de números aleatoriamente distribuídos
em várias colunas verticais e linhas horizontais, em
que, como ponto de partida, seleciona-se o número
de colunas que serão necessárias, segundo o
tamanho do universo, assim como as colunas e a
linha que se iniciará (Andrade, 2001). Elas foram
contatadas com a ajuda do agente e entrevistadas
pelo pesquisador. No entanto, quando uma família
não era encontrada, esta era substituída pela
residência ao lado da mesma.
A coleta de dados foi realizada durante os meses
de março, abril e maio de 2002.
Foi utilizado um formulário construído pelos
autores, constituído por 11 questões (10 fechadas e 1
aberta), abordando aspectos relacionados ao agente
(se o conhece, o procura, pede informações), suas
visitas (freqüência, conteúdo, informações prestadas)
e opinião sobre o trabalho realizado. As questões
eram respondidas livremente pelo entrevistado,
onde era marcado um x na resposta dada, exceto a
questão número 6 (referente ao conteúdo das
visitas), que após a resposta do entrevistado as
opções eram lidas e se houvesse mais alguma
alternativa que o entrevistado quisesse acrescentar
era assinalado com I (induzido). A questão número
11 era aberta, onde o entrevistado podia dar sua
opinião sobre o ACS, podendo dar várias respostas,
ou até mesmo se omitir, o que permitiu uma análise
qualitativa.
O formulário foi respondido por um integrante
da família descrito na ficha de cadastro A, desde que
maior de 15 anos de idade. O preenchimento foi
feito pelo próprio investigador, sem a presença do
ACS, para não haver interferência nas respostas.
O desenvolvimento do estudo obedeceu aos
preceitos da Resolução 196/96 do Ministério da
Saúde no que se refere à solicitação de autorização
para participação no estudo.
Resultados e discussão
As famílias entrevistadas residem na área há mais
de 4 anos, predominantemente. Levando em
consideração o tempo médio de trabalho do ACS na
área, de dois anos, é possível inferir que a população
tem boa percepção do trabalho do ACS, pois vive na
área antes da implantação do PACS e pode sentir o
impacto das ações desses trabalhadores de saúde.
O papel do ACS
O ACS é uma figura bem conhecida na área, pois
98% afirmaram conhecê-lo. O acesso a ele se dá
facilmente, segundo 88% da população, visto que
todos residem na microárea que trabalham. (Figura
1).
12%
88%
Sim Não
Figura 1. Facilidade de acesso ao ACS segundo a população
atendida na área 01 do município de Anastácio, Ministério da
Saúde, 2002.
O ACS não é o primeiro a ser procurado quando!
a família enfrenta problemas de saúde, pois a
comunidade se dirige ao Posto de Saúde (76%)
(Figura 2).
76%
14%
2% 2% 6%
posto de saúde hospital ACS farmácia outros
Figura 2. Percentual de busca por atendimento em caso de
doença pelas famílias na área 01, atendidas pelo PACS em
Anastácio, Ministério da Saúde, 2002.
A procura pelo Posto de Saúde, entretanto, requer
que a população se volte ao agente para resolução de
problemas relacionados ao serviço de saúde (marcação
de consultas, exames e ambulância). Das famílias que
procuram ajuda, 93% consideram que o ACS resolve
satisfatoriamente os problemas quando solicitado,
demonstrando um alto grau de satisfação da
população com sua atuação.
Se a população solicita ajuda do agente para ter
acesso aos serviços, isso pode indicar que a oferta não
tem sido suficiente para atender à demanda ou que o
acolhimento não tem sido feito adequadamente, pois,
ao encaminhar o indivíduo ao posto de saúde, o
agente está exercendo o papel de elo de ligação, sendo
necessário, então, que os serviços estejam
estruturados para receberem essa população, correndo
o risco de colocar em descrédito o trabalho do agente.
O trabalho do agente comunitário de saúde 99
Acta Scientiarum. Health Sciences Maringá, v. 25, no. 1, p. 95-101, 2003
O ACS também tem sido reconhecido por 82%
da comunidade como fonte importante de
informações, relacionadas a doenças, a
medicamentos e ao funcionamento dos postos. É
interessante observar que 16% da população não
fazem perguntas ao ACS, fato que pode estar
relacionado à taxa de analfabetismo do município,
bem como à baixa escolaridade da população.
As visitas do ACS
As normas do PACS (1997) preconizam que as
famílias sejam visitadas mensalmente. Segundo os
dados analisados, 75% da população é visitada no
intervalo preconizado (semanalmente,
quinzenalmente e mensalmente), e 77% foram
visitadas no último mês. Mas 25% das famílias
informam que recebem visitas em intervalos maiores
de dois meses ou nunca foram visitadas.
O fato dos ACSs não realizarem suas visitas
mensalmente leva-nos a considerar que o fato de
eles realizarem outras atividades dentro do sistema
de saúde, como cadastramento do cartão SUS,
cadastramento do Programa Segurança Alimentar e
cadastramento da Bolsa Escola, requer tempo e que
eles saiam de suas áreas, dificultando assim o
cumprimento de suas atividades diárias e rotineiras.
Outro ponto que pode ser considerado é se o
número de famílias cadastradas na área é realmente
as 150 preconizadas pelo Ministério da Saúde, ou se
o ACS possui um número maior de famílias.
Em relação ao conteúdo das visitas, as famílias
referem que as principais ações dos agentes são: dar
orientações sobre a prevenção de doenças, sobre o
funcionamento dos postos, sobre o uso de
medicação, bem como encaminhar ao posto em caso
de doenças, fazer registros sobre a família e sobre a
situação de doença e verificar o cartão da criança.
Ao pensarmos nos verbos que identificam as
ações do agente (identificar, encaminhar, orientar e
acompanhar), verificamos que os agentes da área 01
do município de Anastácio cumprem as ações
propostas pelo programa.
É possível perceber na Figura 3 que as respostas
apresentadas pelas famílias em relação às atividades
desenvolvidas pelos agentes apresentam diferenças
entre as respostas espontâneas e as induzidas. Em
algumas alternativas, as respostas induzidas chegam a
aumentar 50% da frequência das ações,
demonstrando que muitas vezes a população não
está atenta ao trabalho do agente ou reage
passivamente ao mesmo.
O relato da população demonstra que o trabalho
do ACS é pautado em ações que aumentam o
vínculo do sistema de saúde com a comunidade e os
encaminhamentos das pessoas às unidades de saúde.
Isso nos leva a refletir acerca do possível aumento da
demanda dos serviços de saúde e da necessidade da
organização e da adequação dos serviços para atender
à demanda criada pelo PACS, infra-estrutura essa
necessária para o adequado funcionamento do
programa (Solla, 1996).
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%
Verifica o cartão
Orienta diarréia
Orienta tratamento de água
Orienta destino do lixo e dejetos
Orienta funcionamento dos serviços de saúde
Encaminha doentes ao posto
Orienta higiene corporal
Orienta pré-natal
Orienta aleitamento materno
Orienta prevenção de doenças
Orienta sobre medicamentos
Convida para palestras e reuniões
Faz registros e anotações sobre a famí lia
Faz controle de vetores, verifica quintais e terrenos
espontaneo + induzido induzido espontaneo
Figura 3. Atividades desenvolvidas pelos ACS, referidas pelas famílias atendidas na área 01 pelo PACS. Anastácio, Estado do Mato
Grosso do Sul, 2002.
100 Oliveira et al.
Acta Scientiarum. Health Sciences Maringá, v. 25, no. 1, p. 95-101, 2003
Também é possível identificar, na Figura 3 que
faltam ações que fortaleçam a organização, a
valorização e o desenvolvimento comunitário, bem
como ações educativas e preventivas que interfiram
positivamente na saúde da comunidade.
Segundo avaliação feita no PACS da Bahia, as
atividades educativas devem ganhar maior ênfase no
desenvolvimento do programa, reduzindo a carência
de informações da população a respeito de diversos
aspectos relacionados às condições de saúde e a seus
determinantes, possibilidades e formas de acesso aos
serviços, contribuindo, dessa forma, para incentivar
ações de mobilização comunitária que visem à
melhoria das condições de vida e de saúde (Solla,
1996).
A satisfação da população
A população refere que o trabalho do ACS de sua
área é ótimo ou bom (89%) (Figura 4).
Figura 4. Opinião da população acerca do trabalho do ACS que
atua na área 01 do município de Anastácio, Estado do Mato
Grosso do Sul, 2002
Na metodologia, a estimativa utilizada para o
tamanho da amostra foi de 80% de repostas positivas
a essa questão (satisfação com o trabalho do ACS);
portanto, os achados foram maiores do que a
proporção esperada.
Ao se considerar o tempo de trabalho do agente
na área (1 ano, 3 e 4 anos e 6 anos), verificamos que
essa variável não interfere na satisfação da população,
ou seja, independentemente do tempo de serviço do
ACS, seu trabalho foi considerado satisfatório.
A população, ao comentar sobre o ACS, refere-se
as suas características pessoais e ao bom desempenho
no trabalho.
As principais características levantadas pela
comunidade foram: bom, esforçado, simpático,
legal, ótima pessoa, confiável, atende bem,
prestativo, alegre, conversa bem, calmo, paciente,
delicado, “gente fina”, educado, atencioso, disposto.
O bom desempenho do ACS está relacionado às
seguintes atividades: “... é bom porque: acode as
pessoas, marca consultas”; “Ele dá informação,
atenção e ajuda as pessoas”; “... está sempre à
disposição, estimula a fazer exames”; “Ele
acompanha crianças, mães, idosos e doentes”; “O
ACS encaminha em caso de doenças e orienta sobre
os serviços de saúde”.
O reconhecimento do trabalho do ACS pode ser
notado em algumas falas: “Melhorou muito com ele,
ele dá informações...”.; “Ela é boa no bairro...”;
“Espero que ela continue”; “Ela é boa para a
comunidade, ela mantém a gente informada”; “Ele
ajuda muito, pois a vila é isolada, ele está sempre
pronto”.
A população identifica o agente como elo de
ligação entre comunidade-serviço de saúde, quando
expressam as seguintes frases: “Ela tem
conhecimento dos problemas e leva pra quem pode
resolver”; “Ela dá orientações pra gente que não tem
contato com os médicos”; “Ela estimula as mulheres
a fazerem exame”.
A comunidade também fez algumas críticas em
relação ao ACS: “Ele deve fazer mais visitas e
acompanhar mais”; “Poderia ser melhor, ele podia
dar mais informações”.
Considerações finais
O agente comunitário de saúde é uma figura
bem conhecida da população e acessível à
comunidade, sendo mais solicitado por esta última
no que se refere ao acesso aos serviços de saúde.
Também é reconhecido como fonte importante de
informações relacionadas a doenças, aos
medicamentos e ao funcionamento dos postos.
O ACS realiza a maior parte de suas visitas
mensalmente e enfatiza orientações sobre a
prevenção de doenças, o funcionamento dos postos,
o uso de medicação, o encaminhamento ao posto em
caso de doenças. Faz, ainda, registros sobre a família
e a situação de doença e verifica o cartão da criança,
mas fica claro que faltam ações que fortaleçam a
organização, a valorização e o desenvolvimento
comunitário, bem como as ações educativas e as
preventivas que interfiram positivamente na saúde
da comunidade.
A comunidade solicita ajuda do agente e fica
satisfeita com o atendimento, demonstra satisfação
com o trabalho prestado e ressalta as características
pessoais e as atividades que consideram mais
importantes.
A atuação do ACS é adequada e reconhecida
como facilitadora das relações entre indivíduosfamílias-
comunidade com o sistema local de saúde.
Os resultados obtidos confirmam os
pressupostos estabelecidos de que a população de
Anastácio reconhece o papel do Agente Comunitário
36%
53%
10% 1%
0%
ótimo bom regular ruim péssimo
O trabalho do agente comunitário de saúde 101
Acta Scientiarum. Health Sciences Maringá, v. 25, no. 1, p. 95-101, 2003
de Saúde; vê-o como elemento de ligação entre a
comunidade e os serviços de saúde e está satisfeita
com o seu trabalho.
O trabalho do ACS é de grande importância ao
serviço de saúde, pois a sua presença junto à
população facilita o vínculo com o sistema de saúde,
mas é essencial uma infra-estrutura mínima
adequada dos serviços e satisfatórias condições de
trabalho para o ACS para que realmente o vínculo se
estabeleça.
Os serviços devem ter estrutura física, material e
humana para atender à demanda encaminhada pelo
ACS. O PACS deve ser compreendido como uma
estratégia de fortalecimento do SUS.
Um sistema de referência e contra-referência é
fundamental para a qualidade do Programa.
Apesar do ACS estar cumprindo seu papel, as
ações de organização, de valorização e de
desenvolvimento da comunidade, bem como as
ações coletivas, não têm sido desenvolvidas pelo
programa, o que exige uma avaliação na capacitação
dos enfermeiros-supervisores e nas atividades que
eles vêm desenvolvendo junto aos ACSs.
O ACS necessita de treinamento contínuo
adequado e voltado para as realidades locais, que
valorizem a organização e o desenvolvimento da
comunidade.
O sucesso do programa não depende apenas do
ACS, mas de um conjunto de atividades e de ações
planejadas com base nas prioridades levantadas e
analisadas por todos os membros da equipe de
saúde.
Isso requer dos gestores uma compreensão maior
dos problemas da comunidade, um
comprometimento com a população, um
entrosamento com os profissionais de saúde e
políticas municipais coerentes com a necessidade da
população, dos profissionais e do serviço.
Portanto, exigindo de toda a equipe de saúde,
envolvimento com o serviço, sensibilidade com os
problemas da comunidade, disposição para mudar o
que pode ser mudado e esperança para atingir os
objetivos desejados que são qualidade de vida e de
saúde para todos.
Referências
ANDRADE, S. O. M. Texto de apoio para alunos:
Metodologia de Pesquisa Científica-Abordagens
qualitativas. Curso ministrado na SRH/SES/MS, Campo
Grande, 2001.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA
E ESTATÍSTICA: Banco de dados. [S.l.: s.n.], 2002.
Disponível em:
em: 31 jan. 2002.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Assistência à
Saúde. ABC do SUS, Doutrinas e Princípios. Brasília:
Secretaria Nacional de Assistência à Saúde, 1990.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. O trabalho do agente
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MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Políticas de
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MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria Executiva.
Programa de agentes comunitário de saúde (PACS). Brasília:
Ministério da Saúde, 2001.
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE. Consolidado de
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FONTE :PACS. Anastácio: 2001. Base de dados em SIAB, versão
3.5, 2001.
SOLLA, J. J. S. P. et al. O PACS na Bahia: Avaliação do
trabalho dos agentes comunitários de saúde: Saúde em
Debate, Londrina, v. 5, p. 4-15, 1996.
SOUSA, M. F. Agentes comunitários de saúde. Choque de
Povo! São Paulo: Editora Hucitec, 2001.
Received on February 21, 2003.
Accept on May 6, 2003.
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