Acre demite agentes usados como cobaias da malária
Governo estadual mandou embora servidores essenciais no controle da malária e outras endemias numa das mais isoladas regiões amazônicas. Agência Amazônia denunciou o uso de coibaias humanas em pesquisas. O caso se arrasta na Justiça Federal
AGÊNCIA AMAZÔNIA (*)
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CRUZEIRO DO SUL, AC – Ao chegarem para trabalhar, na manhã desta terça-feira, 230 agentes de endemias do maior município do Vale do Juruá tomaram conhecimento de que não precisariam assumir o serviço. Estavam demitidos por justa causa. A região amazônica concentra 99% da transmissão de malária no País.
Desde o início do ano, a categoria vinha reclamando e protestando contra o Estado, por conta da falta de garantias do contrato temporário. Alguns agentes, entre os quais cobaias em pesquisas com anofelinos, feitas pela Secretaria Estadual de Saúde, têm mais de dez anos de serviço. Os servidores demitidos vão apelar aos parlamentares federais acreanos.
Propostas recusadas
De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Saúde dos Municípios do Acre, o governo "recusou todas as propostas da categoria". Lembram que muitos já vinham sendo ameaçados de demissão desde as denúncias sobre o uso de cobaias, feitas pela Agência Amazônia. Na ocasião, o site informou que seres humanos usados na pesquisa, sempre depois das 18h e madrugada adentro, foram atacados pela doença, sem qualquer direito à indenização.
O Ministério Público Federal obrigou o estado a se adequar e cessar o uso de pessoas na captura do mosquito transmissor da malária.
A doença avança e mata. No mês passado, o governo estadual distribuiu mosquiteiros para famílias de municípios atingidos. A medida apenas minimiza a situação. Em Genebra (Suíça), o Ministério da Saúde obteve recursos de € 17 milhões (cerca de R$ 46 milhões) do Fundo Global de Luta Contra a Aids, Tuberculose e Malária. O dinheiro atenderá a comunidades de 47 cidades da Amazônia Brasileira serão beneficiadas por uma subvenção de
Redução é a meta
Os recursos obtidos na Europa serão usados pelo governo federal no Projeto para Prevenção e Controle da Malária na Amazônia Brasileira, cuja meta é reduzir em 50% o número de casos da doença até 2014 nas áreas selecionadas.
Os servidores demitidos dizem que vão buscar seus direitos e pedir ajudar dos parlamentares. A demissão ocorre no mesmo período de reconhecimento a essa categoria profissional: na semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou, em primeiro turno, por 382 votos favoráveis, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 391/09, que cria o plano de carreira para agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias.
Desde julho deste ano, quando a PEC 391 foi apresentada, representantes dos 300 mil agentes de saúde de todos os lugares do país acompanham o debate e a tramitação da proposta na Câmara.
"Falta flexibilidade ao governo"
CRUZEIRO DO SUL – Os agentes temporários vinham protestando desde o lançamento de edital do concurso público promovido pelo governo do Acre para efetivar profissionais na área. Em reportagem, a Agência Amazônia mostrou que, além dos exames de lâminas e da pesquisa do anofelino, esses agentes são excelentes na constatação da filariose linfática, causadora da elefantíase. Receberam elogios até de pesquisadores de universidades de São Paulo, que estiveram no Juruá.
A elefantíase é uma doença que coloca em risco um bilhão de pessoas em todo o mundo". No Brasil, ela é transmitida apenas pela picada da fêmea do mosquito Culex quinquefascitus. Mais de 120 milhões de pessoas sofrem da doença, das quais, mais de 40 milhões se encontram gravemente incapacitados ou apresentam deformações.
A filariose é causada por um helminto (verme) longo e delgado, a filaria Wuchereria bancrofti, do gênero Anopheles, único agente na África e nas Américas. Os outros agentes patogênicos são a Brugia malavi (na China, Sudeste Asiático, Indonésia, Filipinas e sul da Índia) e a Brugia timori (na ilha do Timor) são do gênero Mansonia.
Um dos demitidos hoje, James Herculano, retratou a situação da categoria:
– Todos são pais de família. A gente fica revoltado com essa decisão. Tem pessoas com oito a dez anos de serviço. Eu mesmo tenho seis. O governo, sem nenhum mérito, demite a gente.
Herculano lamentou a "falta de flexibilidade" do governo:
– A única negociação que teve aqui foi dizerem que está todo mundo demitido.
Para o vereador Romário Tavares (PSDB), as demissões se constituíram "um presente malvado". Segundo ele, a população do Juruá sentirá esse golpe. Solidário aos demitidos, ele elogiou o trabalho dos agentes:
– São uns heróis, porque trabalham dia e noite para baixar os casos de malária na região.
(*) Com informações do Juruá Online,fonte:/www.agenciaamazonia.com.br
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